O Rio das Emoções: Medicina Chinesa para Sentir, Expressar e Fluir

01-10-2025

       Na visão da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), as emoções não são inimigas a serem contidas nem forças caóticas a serem dominadas. Elas são movimentos naturais do Qi, a energia vital, expressando-se como o vento que agita as folhas ou a chuva que nutre a terra. Cada emoção tem a sua morada nos órgãos e vísceras — o medo recolhe-se aos rins, a raiva inflama-se no fígado, a alegria expande-se no coração, a preocupação pesa no baço, e a tristeza habita os pulmões. No entanto, tal como a água que flui livremente num rio mantém-se límpida, as emoções, quando se movem, preservam a saúde; quando estagnam, turvam-se e adoecem o corpo e o espírito. Como diz o Huangdi Neijing

"Quando a mente está em paz, o corpo segue em harmonia; quando a mente se agita, o corpo perde-se".

          Para a MTC, expressar as emoções é um ato de higiene interna, tão necessário quanto respirar ou alimentar-se. Não se trata apenas de falar sobre o que se sente, mas de dar forma e movimento à energia que as emoções carregam. Uma conversa franca, um choro liberador, um riso sentido ou até um grito no campo aberto são tão terapêuticos quanto um remédio bem prescrito. No entanto, a expressão também pode ser silenciosa e corporal: uma caminhada lenta para dissipar a ansiedade, o treino de tai chi para harmonizar a raiva, exercícios respiratórios para clarear a tristeza, ou a dança espontânea para revigorar a alegria. O corpo torna-se ponte e válvula de escape, evitando que o excesso de emoção se cristalize em tensão, dores ou doenças. Mas a MTC alerta: expressar não significa descarregar sem consciência. É preciso cultivar a observação interna — o "sentir antes de reagir" — permitindo que a emoção seja reconhecida, nomeada e guiada para uma via construtiva. É nesse ponto que práticas como o Qi Gong, a meditação ou até a escrita meditativa ajudam, pois elas transformam a emoção em aprendizagem, nutrindo os órgãos em vez de desgastá-los.

    Assim, a saúde emocional na MTC é um cultivo contínuo: sentir, reconhecer, expressar e integrar. Não se trata de evitar tempestades internas, mas de aprender a navegar nelas sem perder o leme. Porque, no fundo, como ensinam os mestres, as emoções são mensageiras. E, quando escutadas com atenção, mostram-nos onde o Qi precisa fluir — e onde a vida pede para ser vivida com mais verdade e presença.


Referências Bibliográficas

  • Campiglia, H. (2004). Psique e Medicina Tradicional Chinesa. São Paulo: Roca.

  • Maciocia, G. (2005). A prática da Medicina Chinesa: tratamento de doenças com acupuntura e fitoterapia chinesa (2ª ed.). São Paulo: Roca.

  • Unschuld, P. U. (2016). Huang Di Nei Jing Su Wen: A medicina interna do Imperador Amarelo. Lisboa: Ed. Ésquilo.

Cláudia Raimundo | Medicina Tradicional Chinesa 
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